segunda-feira, 30 de março de 2009

Shakespeare

Soneto 116

Ninguém deve impedir o casamento de almas irmãs;
amor não é amor quando se altera porque muda o vento
ou sai fugindo como desertor.
Nunca, jamais! É o marco de uma vida,
ponto de apoio contra a tempestade,
estrela guia de uma nau perdida, 
lá no espaço infinito iluminada.
O amor não é do tempo a gargalhada
que uma boca vermelha cede à morte:
não se altera por pouco, ou quase nada
nem se o mundo acabar na sua sorte.
Se alguém provar que esse soneto errou,
nunca escrevi, ou ninguém nunca amou.


* o mais lindo!

E. E. Cummings

Um Soneto

Se não for sempre assim e no futuro
de um novo amor o beijo experimentares,
se de minhas mãos fugires no escuro,
e outro coração aprisionares,
no silêncio de um momento impuro
teus cabelos noutra face roçares,
e essas histórias de prometo e juros,
com voz amiga a mais alguém contares,
se for assim, amor, se for assim,
dá-me um aviso, pois serei honesto
e a ele ofertarei num simples gesto
toda felicidade que há em mim.
E bem de longe ouvirei a cantiga,
de um pássaro triste, na terra perdida.

Momentinho para a língua inglesa

Eu carrego você comigo...

Carrego seu coração comigo
Eu carrego no meu coração
Nunca estou sem ele
onde quer que vá, você vai comigo 
E o que quer que faça
Eu faço por você 

Não temo meu destino
Você é meu destino, meu doce
Eu não quero o mundo, por mais belo que seja,
Pois você é meu mundo, minha verdade...
E você é o que a lua sempre significou
O que o sol sempre cantou

Eis o grande segredo que ninguém sabe.
A raiz da raiz
O broto do broto e o céu do céu
De uma árvore chamada vida.
Que cresce mais que a alma pode esperar 
ou a mente pode esconder
E essa é a maravilha que mantém as estrelas distantes 

Eu carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração.

E.E. Cummings

* Resolvi dedicar três posts a dois poetas, escritores, dramaturgos da língua inglesa( Cummings é americano,mas eu pensava que era inglês; Shakespeare é inglês) por três motivos: arrumando minhas gavetas e meus escritos, achei dois poemas dos que mais adoro, um de cada poeta; segundo motivo é que por isso mesmo lembrei do meu casal mais querido e apaixonado que nesse momento moram em oxford e estou morrendo de saudade; terceiro é que coincidentemente um amigo fará uma exposição essa semana e me mandou o poema que serviu de inspiração para o nome da sua exposição e o poema é esse aqui de cima: de Cummings! Adorei!
Ah, são as versões traduzidas, hehehe...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Onde começa a inspiração - continuando...






* As crianças nas fotos somos eu e minha irmã!

Onde começa a inspiração...







Tudo começou com meus avós, aliás pra todo mundo né! Mas por meu convívio com eles ter sido um pouco diferente do que é com a maioria das pessoas, eles representam pra mim mais do que os avós costumam representar. 

Começando pelo estilo de vida que levam e levavam, seus trabalhos, seus amigos, a cultura, as famílias, o ponto de vista, as histórias, as viagens, as conversas, a educação, o comportamento, as roupas, a elegância... Ah, a elegância! Tão natural pra eles como devem ser todos os seres elegantes na essência: naturais. 

As imagens falam por si.


* Nas fotos: meu avô André, vovó Tânia, meu avô Carlos e alguns amigos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Soneto do Amor Total


Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente

E de te amar assim, muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes




segunda-feira, 9 de março de 2009

Temperamento Impulsivo



“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”


Clarisse Lispector

terça-feira, 3 de março de 2009



És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.

Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste.

Epigrama n.2, Cecília Meireles

Soneto do Desmantelo Azul


Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

Carlos Pena Filho


* foto da coleção " Para Fazer um Soneto" da Quem-Te-Vestiu em homenagem a Carlos Pena Filho.

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