Depois, culpou a chuva e os amigos que o julgavam perto enquanto se banhava no imprevisto litoral do sexto continente. A culpa era deles, positivamente. E da chuva. Enquanto isto, o pai jogava cartas e a mãe equilibrava orçamentos. A tia brincava com a vesícula e os irmãos com tabelas de futebol. Só a moça se aproximava, às vezes. Mas essa estava irremediavelmente presa atrás de pianos e livros, imaginando jardins.
E não havia só a chuva. Também o velho paletó azul cheirando a maçãs, ou, melhor, os bolsos outrora habitados por coloridas bolas de vidro. A distância era silenciosa e perigosamente enorme.
Se culpada era a chuva, cúmplice era, por certo, o velho paletó azul e os pianos e os livros transformados em imensas muralhas, cobertas de musgo.
Urgia, portanto, um divertimento como solução definitiva.
As bolas de vidro eram demasiadamente exteporâneas. As palavras cruzadas, bem mais cômodas e alucinantes. Abriu a porta e, além, não descobriu nem paredes nem paisagem alguma. Entrara incoscientemente no mundo do absurdo. Tudo era favorável a inventos e saltos.
E, divertido, muito divertido; como o nascimento de rosas azuis nos encostos dos sofás e as uvas que frutificavam nas pontas dos cabelos.
Só mais tarde teve conhecimento de tudo e viu que as plavras eram deliciosos divertimentos para adultos.
Hoje, é fabricante de brinquedos.
Mas tudo sem coseqüencias nem circunstâncias. E sobretudo improcedentes. Tanto que pôs um aviso em todos eles: estes brinquedos não foram feitos de maneira alguma, para pessoas que possuam velhos paletós azuis cheirando a maçãs, ou coisas presas atrás de pianos e livros.
Carlos Pena Filho